A Real
Fábrica do Gelo
Antes da
invenção do frigorífico, que aconteceu no final do século XIX, a Corte consumia
gelo produzido nas fábricas da Serra da Lousã e da Serra de Montejunto,
propriedade do neveiro-mor, Julião Pereira de Castro. O gelo era produzido a
partir da neve na Serra da Lousã e com a água que gelava dadas as temperaturas
baixas que se faziam sentir a partir do final de setembro ou início de outubro.
A água provinha de 2 poços, era extraída por uma nora e despejada num tanque
com uma capacidade para 151 mil litros. Esta era, depois, distribuída pelos 44
tanques que a fábrica possuía.
O guarda esperava que a água gelasse durante a noite e cabia-lhe
acordar os trabalhadores, com uma corneta, para irem à fábrica tirara o gelo,
que transportavam às costas para uma casa com 3 silos (o maior com 10 metros de
profundidade e 7 de largura), onde se fazia o armazenamento, a conservação e a
expedição do gelo.
Dois a três homens iniciavam então o trabalho de conservação
do gelo. Andavam com maços e compactavam-no até formar um bloco. O gelo
ficava alguns meses no silo e a sua conservação era garantida porque os silos
ficavam uma zona muito fria, sombria e virada a norte. À volta da casa foi
construído um bloco de pedras para evitar a humidade e nos silos foram colocadas
pedras no chão e drenos para diminuir o risco de descongelamento. No topo do
silo maior foi construída uma pequena janela, para permitir a saída do ar
quente expelido pela respiração dos trabalhadores.
Próximo da casa
dos silos, existia um forno de cal, utilizada como desinfectante dos tanques e
dos silos, para garantir a purificação da água do gelo.
No início do verão, dava-se
início ao transporte do gelo até Lisboa, feito em 3 fases, um processo
engenhoso e uma viagem que tinha de ser célere; demorava 12 horas e acontecia
durante a noite para aproveitar as temperaturas mais baixas.
Os homens
partiam e cortavam o gelo, embalavam-no em palha e serapilheira e guardavam-no
num silo enquanto esperavam pelo transporte. Do alto da serra até ao sopé era
transportado por burros e dali até à Vala do Carregado, na margem do Tejo,
seguia em carroças ou carros de bois. Ali chegado, era carregado para barcas
que o transportavam até ao Terreiro do Paço.
Dali era
levado para a Casa da Neve, propriedade do neveiro-mor, que, mais tarde, passou
a ser o café Martinho da Arcada. Outro café que também tinha a mesma função era
o “Café do Gelo” que ainda hoje existe no Rossio.
A Real
Fábrica do Gelo funcionou cerca de um século, tendo desaparecido com o
aparecimento do frigorífico em 1850.
Graças a
um grupo de alunos, a Real Fábrica do Gelo foi recuperada e foi classificada
como Monumento Nacional em 1997.
Diariamente,
ao longo de todo o ano, são realizadas 4 visitas guiadas (10h00, 11h00, 14h00 e
15h30).
Podes
visitá-la! A ver, aprendes melhor!
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