quinta-feira, 26 de março de 2020

HISTORIANDO - 3

A Real Fábrica do Gelo
Antes da invenção do frigorífico, que aconteceu no final do século XIX, a Corte consumia gelo produzido nas fábricas da Serra da Lousã e da Serra de Montejunto, propriedade do neveiro-mor, Julião Pereira de Castro. O gelo era produzido a partir da neve na Serra da Lousã e com a água que gelava dadas as temperaturas baixas que se faziam sentir a partir do final de setembro ou início de outubro. A água provinha de 2 poços, era extraída por uma nora e despejada num tanque com uma capacidade para 151 mil litros. Esta era, depois, distribuída pelos 44 tanques que a fábrica possuía.
O guarda esperava que a água gelasse durante a noite e cabia-lhe acordar os trabalhadores, com uma corneta, para irem à fábrica tirara o gelo, que transportavam às costas para uma casa com 3 silos (o maior com 10 metros de profundidade e 7 de largura), onde se fazia o armazenamento, a conservação e a expedição do gelo.

Dois a três homens iniciavam então o trabalho de conservação do gelo. Andavam com maços e compactavam-no até formar um bloco. O gelo ficava alguns meses no silo e a sua conservação era garantida porque os silos ficavam uma zona muito fria, sombria e virada a norte. À volta da casa foi construído um bloco de pedras para evitar a humidade e nos silos foram colocadas pedras no chão e drenos para diminuir o risco de descongelamento. No topo do silo maior foi construída uma pequena janela, para permitir a saída do ar quente expelido pela respiração dos trabalhadores.

Próximo da casa dos silos, existia um forno de cal, utilizada como desinfectante dos tanques e dos silos, para garantir a purificação da água do gelo.
No início do verão, dava-se início ao transporte do gelo até Lisboa, feito em 3 fases, um processo engenhoso e uma viagem que tinha de ser célere; demorava 12 horas e acontecia durante a noite para aproveitar as temperaturas mais baixas.

Os homens partiam e cortavam o gelo, embalavam-no em palha e serapilheira e guardavam-no num silo enquanto esperavam pelo transporte. Do alto da serra até ao sopé era transportado por burros e dali até à Vala do Carregado, na margem do Tejo, seguia em carroças ou carros de bois. Ali chegado, era carregado para barcas que o transportavam até ao Terreiro do Paço.
Dali era levado para a Casa da Neve, propriedade do neveiro-mor, que, mais tarde, passou a ser o café Martinho da Arcada. Outro café que também tinha a mesma função era o “Café do Gelo” que ainda hoje existe no Rossio.

A Real Fábrica do Gelo funcionou cerca de um século, tendo desaparecido com o aparecimento do frigorífico em 1850.
Graças a um grupo de alunos, a Real Fábrica do Gelo foi recuperada e foi classificada como Monumento Nacional em 1997.
Diariamente, ao longo de todo o ano, são realizadas 4 visitas guiadas (10h00, 11h00, 14h00 e 15h30). 
Podes visitá-la! A ver, aprendes melhor!

Fonte: Viagens Sapo

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